Falta de patrocínio encorajou Diego Hypólito a denunciar abusos: "não tenho o que perder"

  • Por Jovem Pan
  • 09/05/2018 14h20
Rodrigo Ramon/Jovem Pan Ginasta falou sobre a carreira e sobre suas recentes denúncias de abuso

As denúncias de assédio sexual feitas por mais de 40 vítimas contra o ex-técnico da seleção brasileira de ginástica Fernando de Carvalho Lopes fizeram Diego Hypólito se encorajar a denunciar outros casos de abusos sofridos por ele mesmo durante sua infância. Mas não foi só isso que o incentivou a falar. Em entrevista ao Pânico nesta quarta-feira (9), o atleta – duas vezes campeão mundial e vice-campeão olímpico em 2016 – revelou que a falta de patrocínios que enfrenta atualmente o faz pensar que “não tem o que perder”.

“Cada vez mais, não temos nada. Os patrocínios sumiram. Não temos nada hoje. Está acabando o dinheiro em absolutamente tudo. Não tenho mais vergonha de expor as situações. O que perco com isso? Que diferença vai fazer se eu falar?”, declarou.

Diego não exagerou ao afirmar que “não tem nada”. Além de não receber nenhum tipo de patrocínio de empresas privadas, ele recentemente perdeu o incentivo que ganhava do Governo Federal. Chamada de Bolsa-Pódio, a ajuda é oferecida a cada 12 meses a atletas que figuram entre os 20 primeiros do mundo. Acontece que ele passou por uma cirurgia na coluna em 2016 e precisou ficar afastado das competições – o que obviamente o fez cair posições no ranking.

“Não tem mais patrocínio em nada. Não existe dinheiro. Acham que sou podre de rico, mas preciso de patrocínio como todo mundo. Eu tinha a bolsa até pouco depois da Olimpíada, mas como operei a coluna, perdi. Fiz a operação para continuar na ginástica, não foi por ‘gracinha’. Olha, sou medalhista olímpico! No Brasil não existe nem aposentadoria para atleta. Essas coisas têm que ser expostas (…). A sensação que tenho é que as entidades não apoiam os atletas. Quem apoia na realidade é a torcida”, disse.

Sobre os abusos

Os abusos pelos quais Diego passou na infância foram revelados em entrevista recente à TV Globo. Na ocasião, ele contou que sofria intimidações constantes quando treinava no Flamengo, no Rio de Janeiro. Parte do bullying incluía práticas constrangedoras realizadas com o consentimento dos treinadores. Ele especificou uma dessas situações, ocorrida quando tinha de 10 para 11 anos, em um Campeonato Brasileiro em Ribeirão Preto (SP).

“Eles me faziam ficar pelado e pegar uma pilha com o ânus. Não podia ajudar com a mão. Tinha que agachar, pegar a pilha com o ânus e depois deixar dentro de um tênis, num buraquinho de um tênis. Se a pilha caísse fora, tinha de voltar e fazer a prova de novo. Eu fiquei muito nervoso com a situação acontecendo, me deu desespero”, revelou à emissora. Naquele dia, posteriormente, ele teve um ataque epilético.

“Fiquei muitos anos com um fantasma na cabeça. Depois que denunciaram os casos do Fernando, me deu uma revolta grande e uma vontade de contar tudo que passei. Até porque isso deixa traumas. De tempo para cá, comecei a ter muitos problemas. Nos últimos dois anos não dei entrevista. Eu marcava e desmarcava tudo. Comecei a ter crises de ansiedade e não conseguia ficar em lugares sem janela. Aqui no estúdio eu não conseguiria vir. Passava mal”, afirmou ao Pânico.

Para ajudá-lo a lidar com os problemas decorrentes dos abusos, Diego faz hoje um tratamento profissional com um psiquiatra. “Agora estou muito aliviado. Jamais imaginei que tiraria esse peso de mim. O principal que posso dizer às pessoas que passaram por isso é que elas não tenham vergonha. Como é que eu tinha vergonha de uma coisa que não tenho culpa? Eu era só uma criança (…). O legal é que, depois que falei, muita gente me procurou. Estou ajudando elas a se libertarem”, completou.

E agora? Vai tentar mais uma Olimpíada?

Praticamente recuperado das cirurgias, o atleta agora se prepara para voltar às competições. Mas não a qualquer competição. Ele pretende participar das próximas Copas do Mundo e, quem sabe, competir em mais uma edição dos Jogos Olímpicos. “Meu objetivo é ir para Tóquio em 2020. Se eu tiver nível técnico, vou disputar por mérito meu”.

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